O Real Madrid atravessa, talvez, o melhor momento desde que é comandado por José Mourinho. A equipa joga bem, marca golos como nunca e nesta quarta-feira deu mais uma demonstração de poder, ao vencer o Villarreal por 3-0. Com o Barcelona a dar alguns sinais de abrandamento, Mourinho merecia ser líder da Liga espanhola. Há, porém, alguém que o merece ainda mais. E que está a consegui-lo: o clube mais pobre da Liga, o modesto Levante, continua a surpreender, mantendo-se no primeiro lugar pela segunda jornada seguida, algo inédito nos seus 102 anos de história.
O comandante do Levante é um treinador discreto, mas simpático. Juan Ignacio Martínez, conhecido como JIM, já foi apelidado como “o Mourinho dos pobres”, mas na verdade é mais um Guardiola. Embora partilhe com o português a obsessão de controlar tudo o que acontece no clube, JIM é mais parecido com o treinador do Barcelona na forma de jogar e no estilo tranquilo a lidar com os jornalistas. Martínez é um diplomata, algo que talvez lhe venha dos tempos em que vendia seguros, livros e material escolar.
Depois de alguns anos perdido em escalões secundários, JIM foi contratado em Junho pelo Levante, um clube em dificuldades financeiras e sem muitos recursos para contratar jogadores (metade dos 20 milhões de euros de orçamento são para pagar dívidas). Martínez deu então confiança a um grupo de jogadores que tinham sido descartados por outros clubes e estes responderam com golos e boas exibições, colocando a equipa num patamar jamais visto.
Na recepção à Real Sociedad, o Levante deu mais uma lição de vida. Aos quatro minutos, já perdia (golo de Estrada), mas os veteranos Nano (56’) e Valdo (61’) deram a volta ao resultado. O dia, no entanto, parecia mau para a modesta formação de Valência, já que a Real Sociedad empatou novamente (Martínez aos 86’) e Juanfran foi expulso mesmo em cima da hora. Mas mesmo com dez, Suarez (outro veterano) ainda foi a tempo de apontar o 3-2, oferecendo a sétima vitória consecutiva ao Levante, que soma 23 pontos em 27 possíveis.
O clube em que Johan Cruyff jogou em 1981 e que tem apenas 11.300 sócios nunca se imaginou líder em Espanha, mas agora já sonha com algo melhor do que o sétimo lugar de 1963-64. Juan Ignacio Martínez é mesmo o treinador da moda em Espanha e o fenómeno Levante está mesmo a ofuscar um Real Madrid que se transformou numa máquina de golos. A equipa de Mourinho atingiu nesta quarta-feira os 31 remates certeiros em nove jogos do campeonato desta época — contra 27 do Barcelona.
No dia em que Cristiano Ronaldo poderia ter chegado ao 100.º golo em jogos oficiais pelo Real Madrid, foram outros a brilhar. Benzema agradeceu o regresso à titularidade com um remate certeiro logo aos quatro minutos, Kaká mostrou estar de regresso aos bons velhos tempos (10’) e Di María finalizou um bom contra-ataque aos 30’.
Com o jogo resolvido, a segunda parte, em que Coentrão jogou dez minutos, serviu para o Real gerir o resultado e o esforço, numa altura em que soma mais um ponto do que o Barça e tem de fazer cinco jogos antes de receber os catalães em Madrid.
Nos outros jogos do dia, realce para a expulsão de Eliseu na derrota do Málaga em casa do Rayo Vallecano (2-0) e para o desaire do Saragoça de Meira, Rúben Micael e Postiga na recepção ao Valência (0-1).
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